Jerusalém, Israel, 20/6/2011, (IPS) - “Pai, me ajude! Não deixe que me levem!”, gritou Ahmed Siyam, de 12 anos, enquanto cerca de 50 soldados e policiais israelenses fortemente armados o arrastavam, algemavam e vendavam seus olhos. O garoto era acusado de atirar pedras.
Meninos palestinos feridos por gases lacrimogêneos lançados por israelenses
No mês passado, Ahmed foi tirado de sua cama às quatro horas da manhã pelas forças de segurança lideradas por agentes do Shin Bet, a agência de inteligência interna israelense.
Meninos palestinos feridos por gases lacrimogêneos lançados por israelenses. Ahmed foi levado a uma delegacia em Jerusalém ocidental acusado de jogar pedras contra soldados e policiais israelenses durante confrontos com jovens palestinos no bairro de Silwan, em Jerusalém Oriental. Silwan se transformou em um ponto habitual de confrontos entre jovens palestinos e colonos judeus, estes últimos apoiados por soldados de Israel.
Centenas de palestinos foram expulsos de suas casas em Jerusalém oriental para dar lugar às colônias judias. Muitos lares foram destruídos e outras dezenas estão sob ameaça. Tudo isto viola o direito internacional. Quando os soldados chegaram pela primeira vez, o pai de Ahmed, Daoud, negou-se a abrir a porta e exigiu que fosse apresentada a ordem de detenção.
“Mas eles ameaçaram arrombar a porta. Perguntaram onde estava meu filho e eu perguntei por que o procuravam. Mandaram que eu calasse a boca e me atacaram”, contou Daoud à IPS. “Depois foram ao quarto de Ahmed e o arrastaram até uma viatura policial. Não disseram para onde o levavam e fui impedido de ir junto”, acrescentou. “Na manhã seguinte, depois de diversos telefonemas, soube que estava no Complexo Ruso (uma delegacia de polícia). Quando cheguei lá, não me deixar ver meu filho, e inclusive negaram que ele estivesse ali”, disse o pai. “Finalmente, após chamar meu advogado, pude vê-lo várias horas depois. Estava muito traumatizado e chorando”, recordou Daoud.
“Fiquei assustado. Não podia ver para onde íamos e minhas mãos estavam fortemente algemadas atrás das costas. Na delegacia, se negaram a me dar água quando disse que estava com sede, e quando pedi para ir ao banheiro me chutaram. Eles me interrogaram durante horas e me acusaram de atirar pedras, o que neguei”, contou Ahmed à IPS. Duas semanas antes seu primo, Ali Siyam, de sete anos, fora preso em circunstâncias semelhantes e também acusado de atirar pedras. Quando seu pai, Muhammad, tentou deter a dezena de uniformizados israelenses que queriam levar seu filho, recebeu golpes na cabeça e precisou ser atendido em um hospital.
A tia de Ali recebeu um tiro na perna com bala de borracha quando tentava intervir, e também precisou de assistência médica. Os pais de Ali não puderam acompanhar o filho até a delegacia, e, quando foram ao Complexo Ruso, a polícia negou que o menino estivesse detido. Quando a advogada israelense de Ali, Lea Tzemel, tentou visitá-lo na cadeia, os guardas a impediram e ela acabou detida. Depois de uma discussão, conseguiu ver o garoto, que foi liberado várias horas depois. Por sua vez, Ahmed foi colocado sob prisão domiciliar e impedido de ir à escola, enquanto a investigação policial prosseguir. Deve comparecer à justiça no próximo mês, acusado de atirar pedras.
A organização Defesa de Meninos e Meninas Internacional (DNI) informou que a polícia israelense abriu 1.267 processos penais contra menores palestinos, entre novembro de 2009 e outubro de 2010, por atirarem pedras em Jerusalém oriental. Por sua vez, o grupo B’tselem informou que 31 deles eram de Silwan. “Desses meninos e meninas, 50% foram interrogados sem a presença dos pais ou de um advogado, e muitos foram ameaçados ou atacados”, disse à IPS Gerard Horton, advogado da DNI.
“Muitas dessas crianças receberam gritos, bofetadas e empurrões, às vezes foram chutadas e apanharam durante os interrogatórios, sendo obrigadas a fazer declarações de duvidosa precisão. Alguns foram ameaçados com mais violência”, disse Horton. “Essas crianças foram tiradas de suas casas no meio da noite, muitas algemadas e vendadas. Foram interrogadas horas depois, quando já estavam traumatizadas e desorientadas, sem possibilidade de resistir à pressão”, acrescentou.
A situação de meninas e meninos palestinos na Cisjordânia é ainda pior, pois estão submetidos à lei militar. Menores podem permanecer detidos por oito dias antes de serem levados a um tribunal militar. “Tivemos um caso em que três crianças foram alvo de abusos, quando tinham as mãos atadas às costas e eram interrogadas por policiais israelenses em um dos assentamentos. Outras foram ameaçadas de terem suas casas explodidas e várias receberam ameaça de serem violentadas”, disse Horton à IPS.
Mais de 25 crianças palestinas foram presas em Silwan nas últimas semanas. Milad Ayyash, de 17 anos, foi morto em maio por um guarda de segurança israelense que argumentou que o jovem estava envolvido em enfrentamentos. No ano passado, foi divulgado um polêmico vídeo mostrando um colono israelense de Silwan dirigindo seu veículo deliberadamente contra um menino palestino, que supostamente atirava pedras. As imagens foram usadas pelo fabricante do carro como demonstração de sua resistência, o que causou indignação. A criança foi hospitalizada com fraturas e depois presa. Não foram apresentadas acusações contra o motorista. Envolverde/IPS (FIN/2011)
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