Aécio Neves foi quem mandou investigar José Serra

08/09/2010

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Todo o post abaixo pertence ao blog Daniel Florencio, apenas copiei na íntegra e colei.

José Serra foi ao Jornal da Globo de anteontem e acusou Dilma Roussef, candidata a Presidência da República, a quem as pesquisas dão mais de 55% dos votos válidos no 1o turno, de criminosa e de violar o sigilo fiscal de sua filha, Verônica.


A violação do sigilo de Verônica ocorreu em 2009. 1 ano atrás, quando Dilma nem Serra eram ainda candidatos a nada. Em 2009 mesmo, tomou-se conhecimento da violação através de informações em blogs.  Somente agora, há 30 dias das eleições, Serra resolve indignar-se.
Está corretissimo em indignar-se, pois é sim um fato grave. Mas com um ano de atraso, e as vésperas das eleições denota oportunismo eleitoral.
Serra acusa o PT e Dilma de violarem o sigilo fiscal de sua filha. Globo, Folha, Estadão vão atrás investigar o caso, como se fosse algo novo. Recente. E já partem da premissa que foi autoria do PT.



Uma historinha






Em 2008 quando meu documentário “Gagged in Brazil” foi ao ar na Current TV, alguns amigos de Belo Horizonte, metidos no meio político e em campanhas eleitorais me perguntavam preocupados via MSN, “Daniel, você recebeu dinheiro do Serra?”.
Esse absurdo que me incomodou bastante, e que pra mim não fazia o menor sentido começa a se esclarecer agora…
A época, quando ainda se debatia dentro do PSDB quem seria o candidato a presidência em 2010, uma batalha interna se iniciou entre Aécio Neves e José Serra.
Supostamente, Serra preparava um dossiê contra Aécio. Em resposta, Aécio começou a preparar um dossiê contra Serra, através do Jornal Estado de Minas, seu grande aliado nas Gerais.
Um dos repórteres escalados para a missão foi Amaury Ribeiro. Respeitado repórter investigativo que correu atrás de todas as informações possíveis sobre Serra, para a guerra de contra-informação que se esperava entre os dois tucanos.
Em um texto da Carta Capital, Amaury Ribeiro descreve o ocorrido:
À época, explica, havia uma movimentação, atribuída ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), visceralmente ligado a Serra, para usar arapongas e investigar a vida do governador tucano Aécio Neves, de Minas Gerais. Justamente quando Aécio disputava a indicação como candidato à Presidência pelos tucanos. “O interesse suposto seria o de flagrar o adversário de Serra em situações escabrosas ou escândalos para tirá-lo do páreo”, diz o jornalista. “Entrei em campo, pelo outro lado, para averiguar o lado mais sombrio das privatizações, propinas, lavagem de dinheiro e sumiço de dinheiro público.””
A briga interna no PSDB foi solucionada sem a necessidade de armas, mas Amaury Ribeiro tinha então uma coletânea enorme de informações comprometedoras sobre Serra. Como o Estado de Minas não faz jornalismo, mas sim política, nenhuma matéria comprometedora sobre Serra foi publicada. Amaury pegou o material e editou em um livro chamado “Os porões da privataria” que prometeu publicar após as eleições.
Tudo isso aconteceu a partir de 2008. Em 2009 quando o embate Aécio Vs. Serra era mais intenso, foi  que aconteceu a quebra do sigilo da filha de Serra, Verônica.
Uma matéria da Folha sobre o “dossiê” diz sobre Amaury:
“Repórter investigativo com passagens por Folha, “O Globo” e “Jornal do Brasil”, ele foi escalado para apurar eventuais irregularidades relacionadas ao outro presidenciável tucano, Serra.
O resultado das apurações do jornalista nunca foi publicado pelo jornal. “Ele trabalhava em várias investigações. Essa investigação específica não estava concluída quando ele pediu demissão no final de 2009″, diz o diretor de Redação do “Estado de Minas”, Josemar Gimenez.”
Na redação do Estado de Minas, não era dito abertamente que Amaury investigava José Serra. Repórter especial, sua rotina não envolvia bater ponto na redação, tinha o horário mais flexível, entrava e saía quando quizesse e viajava sempre que necessário.
Amaury pediu demissão do Estado de Minas em novembro de 2009.
2 meses antes, em setembro, o sigilo de Verônica Serra havia sido violado.
Na introdução de seu livro “Os porões da privataria”, já divulgado em vários websites, Amaury discorre extensamente sobre movimentações financeiras e o envolvimento de Verônica Serra em empresas no Brasil e no exterior. ( Veja texto ao fim do post )
Por outro lado, não haveria, em setembro de 2009, interesse algum do PT, ou de Dilma Roussef ( que nem candidata a candidata era ) de investigar a informação que fosse sobre José Serra, mesmo porque a guerra interna do PSDB ainda haveria de decidir se o candidato a presidência seria ele ou Aécio Neves.
Oportunismo
Serra, o PSDB e a mídia, oportunisticamente, revivem a história da quebra do sigilo de Verônica e acusam incessantemente o PT e Dilma Roussef.  Sem o menor pudor, afirmam que “o PT é responsável pelo crime”, como se fatos e datas fossem irrelevantes ou não existissem.
José Serra em todas as entrevistas dadas nos últimos dias utiliza sempre  os termos “Dilma”, “Violação” e “Criminosa”, em um esforço visível de fazer colar a ligação entre as 3 palavras.
A realidade mais plausível que Serra e o PSDB conhecem é que essa violação partiu de dentro do jornal Estado de Minas para abastecer uma batalha de contra-informação do próprio PSDB.
Mas, com a candidata petista com grandes chances de vencer no 1o turno com uma maioria esmagadora, vale inescrupulosamente tentar atribuir ao PT, os mal feitos do próprio PSDB.
UPDATE: Dificilmente essa versão, baseada em fatos concretos, de que o sigilo foi quebrado em uma batalha interna do próprio PSDB vai ganhar corpo e merecer uma investigação profunda da grande mídia. O grandes veículos insistem e vão continuar insistindo na versão fantasiosa aonde o PT é responsável pelo crime.
Merval Pereira em O Globo e os colunistas da Grande Mídia já repercutem a quebra do Sigilo de Verônica Serra levando em consideração apenas a versão do PSDB. Merval diz inclusive em seu texto no O Globo de hoje que Amaury Ribeiro trabalhava na campanha de Dilma quando investigava José Serra. O que simplesmente não condiz com a realidade. É mentiroso. A investigação a Serra e a quebra de sigilo de Verônica ocorreu antes de Amaury trabalhar na campanha. Amaury não faz mais parte da campanha e está hoje na TV Record.
UPDATE 2: Enquanto FOLHA DE S. PAULO, ESTADAO e O GLOBO gritam nas suas capas “ESCANDALO”,  vejam a capa do Estado de Minas de hoje. Não existe violação de dados de filha de ninguém em Minas Gerais.

UPDATE 3: Jornal Nacional anuncia hoje que violador do sigilo de filha de Serra era filiado ao PT. Tudo bem. É um dado a mais. Mas ele é apenas o despachante da história. O que importa é o mandante. E não o despachante.
UPDATE 4: Quando essa história começar a se aproximar do PSDB, como demonstrado aqui encima, O Globo, TV Globo, Estadão e Folha de S. Paulo deixarão de investigar a história. A investigação deles só é válida até o ponto em que envolva o PT. Além disso, não os interessa.
A introdução do livro de Amaury Ribeiro
Os porões da privataria
Quem recebeu e quem pagou propina. Quem enriqueceu na função pública. Quem usou o poder para jogar dinheiro público na ciranda da privataria. Quem obteve perdões escandalosos de bancos públicos. Quem assistiu os parentes movimentarem milhões em paraísos fiscais. Um livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhou nas mais importantes redações do país, tornando-se um especialista na investigação de crimes de lavagem do dinheiro, vai descrever os porões da privatização da era FHC. Seus personagens pensaram ou pilotaram o processo de venda das empresas estatais. Ou se aproveitaram do processo. Ribeiro Jr. promete mostrar, além disso, como ter parentes ou amigos no alto tucanato ajudou a construir fortunas. Entre as figuras de destaque da narrativa estão o ex-tesoureiro de campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio de Oliveira, o próprio Serra e três dos seus parentes: a filha Verônica Serra, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Todos eles, afirma, tem o que explicar ao Brasil.
Ribeiro Jr. vai detalhar, por exemplo, as ligações perigosas de José Serra com seu clã. A começar por seu primo Gregório Marín Preciado, casado com a prima do ex-governador Vicência Talan Marín. Além de primos, os dois foram sócios. O “Espanhol”, como (Marin) é conhecido, precisa explicar onde obteve US$ 3,2 milhões para depositar em contas de uma empresa vinculada a Ricardo Sérgio de Oliveira, homem-forte do Banco do Brasil durante as privatizações dos anos 1990. E continuará relatando como funcionam as empresas offshores semeadas em paraísos fiscais do Caribe pela filha – e sócia — do ex-governador, Verônica Serra e por seu genro, Alexandre Bourgeois. Como os dois tiram vantagem das suas operações, como seu dinheiro ingressa no Brasil …
Atrás da máxima “Siga o dinheiro!”, Ribeiro Jr perseguiu o caminho de ida e volta dos valores movimentados por políticos e empresários entre o Brasil e os paraísos fiscais do Caribe, mais especificamente as Ilhas Virgens Britânicas, descoberta por Cristóvão Colombo em 1493 e por muitos brasileiros espertos depois disso. Nestas ilhas, uma empresa equivale a uma caixa postal, as contas bancárias ocultam o nome do titular e a população de pessoas jurídicas é maior do que a de pessoas de carne e osso. Não é por acaso que todo dinheiro de origem suspeita busca refúgio nos paraísos fiscais, onde também são purificados os recursos do narcotráfico, do contrabando, do tráfico de mulheres, do terrorismo e da corrupção.
A trajetória do empresário Gregório Marin Preciado, ex-sócio, doador de campanha e primo do candidato do PSDB à Presidência da República mescla uma atuação no Brasil e no exterior. Ex-integrante do conselho de administração do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), então o banco público paulista – nomeado quando Serra era secretário de planejamento do governo estadual, Preciado obteve uma redução de sua dívida no Banco do Brasil de R$ 448 milhões (1) para irrisórios R$ 4,1 milhões. Na época, Ricardo Sérgio de Oliveira era diretor da área internacional do BB e o todo-poderoso articulador das privatizações sob FHC.
(Ricardo Sergio é aquele do “estamos no limite da irresponsabilidade. Se  der m… “, o momento Péricles de Atenas do Governo do Farol – PHA)

Ricardo Sérgio também ajudaria o primo de Serra, representante da Iberdrola, da Espanha, a montar o consórcio Guaraniana. Sob influência do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, mesmo sendo Preciado devedor milionário e relapso do BB, o banco também se juntaria ao Guaraniana para disputar e ganhar o leilão de três estatais do setor elétrico (2).
O que é mais inexplicável, segundo o autor, é que o primo de Serra, imerso em dívidas, tenha depositado US$ 3,2 milhões no exterior através da chamada conta Beacon Hill, no banco JP Morgan Chase, em Nova York.  É o que revelam documentos inéditos obtidos dos registros da própria Beacon Hill em poder de Ribeiro Jr. E mais importante ainda é que a bolada tenha beneficiado a Franton Interprises. Coincidentemente, a mesma empresa que recebeu depósitos do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, Ricardo Sérgio de Oliveira, de seu sócio Ronaldo de Souza e da empresa de ambos, a Consultatun. A Franton, segundo Ribeiro, pertence a Ricardo Sérgio.
A documentação da Beacon Hill levantada pelo repórter investigativo radiografa uma notável movimentação bancária nos Estados Unidos realizada pelo primo supostamente arruinado do ex-governador. Os comprovantes detalham que a dinheirama depositada pelo parente do candidato tucano à Presidência na Franton oscila de US$ 17 mil (3 de outubro de 2001) até US$ 375 mil (10 de outubro de 2002). Os lançamentos presentes na base de dados da Beacon Hill se referem a três anos. E indicam que Preciado lidou com enormes somas em dois anos eleitorais – 1998 e 2002 – e em outro pré-eleitoral – 2001. Seu período mais prolífico foi 2002, quando o primo disputou a presidência contra Lula. A soma depositada bateu em US$ 1,5 milhão.
O maior depósito do endividado primo de Serra na Beacon Hill, porém, ocorreu em 25 de setembro de 2001. Foi quando destinou à offshore Rigler o montante de US$ 404 mil. A Rigler, aberta no Uruguai, outro paraíso fiscal, pertenceria ao doleiro carioca Dario Messer, figurinha fácil desse universo de transações subterrâneas. Na operação Sexta-Feira 13, da Polícia Federal, desfechada no ano passado, o Ministério Público Federal apontou Messer como um dos autores do ilusionismo financeiro que movimentou, através de contas no exterior, US$ 20 milhões derivados de fraudes praticadas por três empresários em licitações do Ministério da Saúde.
O esquema Beacon Hill enredou vários famosos, entre eles o banqueiro Daniel Dantas. Investigada no Brasil e nos Estados Unidos, a Beacon Hill foi condenada pela justiça norte-americana, em 2004, por operar contra a lei.
Percorrendo os caminhos e descaminhos dos milhões extraídos do país para passear nos paraísos fiscais, Ribeiro Jr. constatou a prodigalidade com que o círculo mais íntimo dos cardeais tucanos abre empresas nestes édens financeiros sob as palmeiras e o sol do Caribe. Foi assim com Verônica Serra. Sócia do pai na ACP Análise da Conjuntura, firma que funcionava em São Paulo em imóvel de Gregório Preciado, Verônica começou instalando, na Flórida, a empresa Decidir.com.br,  em sociedade com Verônica Dantas, irmã e sócia  do banqueiro Daniel Dantas, que arrematou várias empresas nos leilões de privatização realizados na era FHC.

Financiada pelo banco Opportunity, de Dantas, a empresa possui capital de US$ 5 milhões. Logo se transfere com o nome Decidir International Limited para o escritório do Ctco Building, em Road Town, ilha de Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas. A Decidir do Caribe consegue trazer todo o ervanário para o Brasil ao comprar R$ 10 milhões em ações da Decidir do Brasil.com.br, que funciona no escritório da própria Verônica Serra, vice-presidente da empresa. Como se percebe, todas as empresas tem o mesmo nome. É o que Ribeiro Jr. apelida de “empresas-camaleão”. No jogo de gato e rato com quem estiver interessado em saber, de fato, o que as empresas representam e praticam é preciso apagar as pegadas. É uma das dissimulações mais corriqueiras detectada na investigação.
Não é outro o estratagema seguido pelo marido de Verônica, o empresário Alexandre Bourgeois. O genro de Serra abre a Iconexa Inc no mesmo escritório do Ctco Building, nas Ilhas Virgens Britânicas, que interna dinheiro no Brasil ao investir R$ 7,5 milhões em ações da Superbird. com.br que depois muda de nome para  Iconexa S.A…Cria também a Vex capital no Ctco Building, enquanto Verônica passa a movimentar a Oltec Management no mesmo paraíso fiscal. “São empresas-ônibus”, na expressão de Ribeiro Jr., ou seja, levam dinheiro de um lado para o outro.

De modo geral, as offshores cumprem o papel de justificar perante o Banco Central e à Receita Federal a entrada de capital estrangeiro por meio da aquisição de cotas de outras empresas, geralmente de capital fechado, abertas no país. Muitas vezes, as offshores compram ações de empresas brasileiras em operações casadas na Bolsa de Valores. São frequentemente operações simuladas tendo como finalidade única internar dinheiro nas quais os procuradores dessas offshores acabam comprando ações de suas próprias empresas… Em outras ocasiões, a entrada de capital acontecia através de sucessivos aumentos de capital da empresa brasileira pela sócia cotista no Caribe, maneira de obter do BC a autorização de aporte do capital no Brasil. Um emprego alternativo das offshores é usá-las para adquirir imóveis no país.
Depois de manusear centenas de documentos, Ribeiro Jr. observa que Ricardo Sérgio, o pivô das privatizações — que articulou os consórcios usando o dinheiro do BB e do fundo de previdência dos funcionários do banco, a Previ, “no limite da irresponsabilidade” conforme foi gravado no famoso “Grampo do BNDES” — foi o pioneiro nas aventuras caribenhas entre o alto tucanato. Abriu a trilha rumo às offshores e as contas sigilosas da América Central ainda nos anos 1980. Fundou a offshore Andover, que depositaria dinheiro na Westchester, em São Paulo, que também lhe pertenceria…
Ribeiro Jr. promete outras revelações. Uma delas diz respeito a um dos maiores empresários brasileiros, suspeito de pagar propina durante o leilão das estatais, o que sempre desmentiu. Agora, porém, existe evidência, também obtida na conta Beacon Hill, do pagamento da US$ 410 mil por parte da empresa offshore Infinity Trading, pertencente ao empresário, à Franton Interprises, ligada a Ricardo Sérgio.
(1)A dívida de Preciado com o Banco do Brasil foi estimada em US$ 140 milhões, segundo declarou o próprio devedor. Esta quantia foi convertida em reais tendo-se como base a cotação cambial do período de aproximadamente R$ 3,2 por um dólar.
(2)As empresas arrematadas foram a Coelba, da Bahia, a Cosern, do Rio Grande do Norte, e a Celpe, de Pernambuco.

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